02 maio, 2007

Kill Kitty

Tarantino que se cuide. Depois de Kill Bill, a grande novidade é a Kill Kitty.
Acabei de me tornar uma assassina de gatinhos indefesos.

Sábado passado estava eu, no fatídico almoço de família, conversando com a parentada toda, aguardando um bom momento para tomar um café. Enquanto ninguém se decidia ou tomava coragem de ir até a cozinha pôr a água para ferver, conversávamos sobre coisas corriqueiras, uma vez em que parente que se vê todo fim de semana nunca tem muito o que conversar. Sentei do lado do meu avô, no sofá menor, minha avó estava sentada na sua cadeira confortável, minha tia-avó numa outra, e no sofá maior sentou a minha tia, seu marido, meu primo menor (14 anos) se aconchegou no meio dos dois, e a cachorrinha deles pulou em cima dos três. Com o circo familiar armado, surgiu o seguinte comentário: "olha a família toda reunida, falta só o João (meu primo maior)". E eu arrematei "falta o João e o Simba (o velho gato deles)". Meu avô, meio sem jeito, "mas o Simba não dá mais". E eu "como não dá mais". Aí ele respondeu "o Simba já foi". Tomei um susto porque fofoca na família corre rápida e solta, e perguntei diretamente à minha tia "O Simba morreu? Quando?". Ela disse "ah, hoje. Ele estava no veterinário desde terça-feira, com problema nos rins".
Pronto. Era o segundo que faltava para o meu primo se levantar e sair correndo para chorar no banheiro. Aí meu avô, minha tia e minha tia-avó lançaram olhares fulminantes em minha direção, dizendo "não fique falando, não toque no assunto, porque ele sofre!".
Em menos de um minuto minha irmã chega com o meu primo maior, e quando eu fui abrir o portão, maldita boca "Ana, o Simba morreu hoje, a tia só me contou agora".
Pronto. Era o segundo que faltava para o meu outro primo entrar na casa começar a chorar também.
Aí me lançaram, em dobro, mais olhares fulminantes, que diziam "olha só o estrago que você fez". E ainda pra ajudar, minha irmã "Você entrou falando aquilo e o João nem sabia".
Pronto. Era o segundo que faltava, agora sim, para eu abrir a minha maldita boca e falar um monte:
"Isso é normal, chorar a perda do nosso bichinho é sempre normal. Não tentem poupá-los desse sofrimento, porque isso é impossível. Deixe que sofram e que chorem."

E assim, metaforicamente, me tornei uma assassina de gatinhos.
E é aqui onde coloco todos esses poréns:
1) nenhum deles tem 4 ou 5 anos, para que tenham que dar mil voltas para contar um fato que por si só, já diz o inevitável, que é a morte.
2) mal sabem eles que com 11 anos de idade minha periquita (ave, hein) Ceci morreu na minha mão, enquanto eu passava remédio no seu bico. Eu sobrevivi!
3) mal sabem eles que, aos 14 anos, ninguém teve coragem de levar a nossa gatinha Bolinha para o sacrifício (a mando do veterinário, porque não havia mais jeito), e lá fui eu, carregando a gata no balaio e chorando no caminho. Eu também sobrevivi!
4) o pior exemplo que posso dar para isso tudo é que eu espero que eles nunca percam um amigo, como eu perdi há alguns anos atrás, assassinado brutalmente, sem motivos. Uma pessoa que tinha uma vida inteira pela frente, 27 anos de pura alegria, alguém que vou trazer comigo para sempre. E, apesar do peso todo dessa perda, eu também sobrevivi.

Sobrevivi, e cá estou para contar essas histórias e muitas outras mais. Viver que é duro, minha gente, morrer é ganhar a chance de se libertar.

Paz.

Um comentário:

Amanda Herrera Massucatto disse...

huahauhaha
só me faltava essa...
bem quem!
deixa a Vitória saber q vc anda assassinando gatinhos por ai!
hauhauahahu