Zélia Duncan!
Essa grande compositora brasileira...
hoje, nas minhas buscas desenfreadas pelo desconhecido, e pelo conhecido, caiu em minhas mãos a sua música "Hóspede do Tempo". Adoro suas composições, mas ao descobrir esta homenagem à grande Hilda Hilst, passei a adorar mais ainda.
Faço questão de colocá-la em meu blog, afinal, foram as justas palavras da sra Hilda Hilst que me inspiraram a criar essa página - a maneira que encontrei de manifestar em palavras alguns sentimentos e de poder compartilhar com os leitores boas coisas.
Hóspede do Tempo
Zélia Duncan
Composição: Fred Martins / Zélia Duncan
Sou hóspede do tempo
Da minha casa
Das minhas palavras
Das coisas que declaro minhas
Inquilina da vida que me foi dada
Portanto, nada
Ficou na minha bagagem
Do velho brinquedo
Que já não ilude, não me ilude
O que eu tenho é minha atitude
O que eu levo é minha atitude
O que pesa é minha atitude
Minha porção maior
(Para Hilda Hilst)
Se todo mundo pensasse seriamente no absurdo que é tudo isso de ser feito de carne, mas também olhar as estrelas, de ter um rosto, mas também ter aquele buraco fétido, se todo mundo tivesse o hábito de pensar, haveria mais piedade, mais solidariedade, mais compaixão e amor. Hilda Hilst
24 maio, 2005
21 maio, 2005
Clarice estava certa
Clarice não estava errada.
Eu sei.
Eu não sei.
"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."
(Clarice Lispector)
Eu sei.
Eu não sei.
"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."
(Clarice Lispector)
20 maio, 2005
Homens de Nosso Tempo
E no meio deste fogo cruzado, essa encruzilhada que tenta me matar.
Mas não me mata.
Eu apenas nasço, e renovo a alma.
Porque eu mudo de faixa. Eu mudo o lado.
Eu mudo de itinerário.
É porque eu mudo, e muda, não me deixo morrer.
Não me permito cair além do que o chão me barra.
Eu caio de cara mas minhas mãos, ainda vivas, me dão suporte para me levantar.
E eu me levanto.
Os olhos procurando o céu.
Eu grito com o meu silêncio.
Por mais que o mundo caia sobre minha cabeça,
aquelas estrelas ainda brilham lá em cima.
Eu tenho que olhar para elas.
Eu me permito olhar para elas.
E me permitindo, assim,
eu entendo que ainda existem saídas.
Mas estas saídas são e serão por outras portas.
Esta porta aqui já se fechou.
E eu ainda tenho dezenas, talvez centenas,
de outras portas para abrir.
Basta saber onde achar as chaves.
Eu estou indo embora daqui.
Em corpo físico.
Meu espírito já se mandou há um bom tempo.
Eu tive orgulho de estar aqui.
E é essa boa lembrança desse bom orgulho,
que vai prevalecer na minha mente.
Agora, eu tenho outras portas para abrir.
__________________________________________________________________
Poemas aos Homens do nosso Tempo
de Hilda Hilst
Amada vida, minha morte demora.
Dizer que coisa ao homem,
Propor que viagem? Reis, ministros
E todos vós, políticos,
Que palavra além de ouro e treva
Fica em vossos ouvidos?
Além de vossa RAPACIDADE
O que sabeis
Da alma dos homens?
Ouro, conquista, lucro, logro
E os nossos ossos
E o sangue das gentes
E a vida dos homens
Entre os vossos dentes.
Mas não me mata.
Eu apenas nasço, e renovo a alma.
Porque eu mudo de faixa. Eu mudo o lado.
Eu mudo de itinerário.
É porque eu mudo, e muda, não me deixo morrer.
Não me permito cair além do que o chão me barra.
Eu caio de cara mas minhas mãos, ainda vivas, me dão suporte para me levantar.
E eu me levanto.
Os olhos procurando o céu.
Eu grito com o meu silêncio.
Por mais que o mundo caia sobre minha cabeça,
aquelas estrelas ainda brilham lá em cima.
Eu tenho que olhar para elas.
Eu me permito olhar para elas.
E me permitindo, assim,
eu entendo que ainda existem saídas.
Mas estas saídas são e serão por outras portas.
Esta porta aqui já se fechou.
E eu ainda tenho dezenas, talvez centenas,
de outras portas para abrir.
Basta saber onde achar as chaves.
Eu estou indo embora daqui.
Em corpo físico.
Meu espírito já se mandou há um bom tempo.
Eu tive orgulho de estar aqui.
E é essa boa lembrança desse bom orgulho,
que vai prevalecer na minha mente.
Agora, eu tenho outras portas para abrir.
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Poemas aos Homens do nosso Tempo
de Hilda Hilst
Amada vida, minha morte demora.
Dizer que coisa ao homem,
Propor que viagem? Reis, ministros
E todos vós, políticos,
Que palavra além de ouro e treva
Fica em vossos ouvidos?
Além de vossa RAPACIDADE
O que sabeis
Da alma dos homens?
Ouro, conquista, lucro, logro
E os nossos ossos
E o sangue das gentes
E a vida dos homens
Entre os vossos dentes.
01 maio, 2005
Delicadeza de um Boquete
HA!
No Manual Drummond está escrito, como ser delicado na hora de agradecer uma donzela, ou donzelo, de ter lhe aplicado um adorável bola-gato. É até uma maneira sutil de pedir desculpas por não ter ligado no dia seguinte... e nem no outro... nem no outro... nem...
Sem que eu pedisse, fizeste-me a graça
Sem que eu pedisse, fizeste-me a graça
de magnificar meu membro.
Sem que eu esperasse, ficastes de joelhos
em posição devota.
O que passou não é passado morto.
Para sempre e um dia
o pênis recolhe a piedade osculante de tua boca.
Hoje não estás sem sei onde estarás,
na total impossibilidade de gesto ou comunicação.
Não te vejo não te escuto não te aperto
mas tua boca está presente, adorando.
Adorando.
Nunca pensei ter entre as coxas um deus.
No Manual Drummond está escrito, como ser delicado na hora de agradecer uma donzela, ou donzelo, de ter lhe aplicado um adorável bola-gato. É até uma maneira sutil de pedir desculpas por não ter ligado no dia seguinte... e nem no outro... nem no outro... nem...
Sem que eu pedisse, fizeste-me a graça
Sem que eu pedisse, fizeste-me a graça
de magnificar meu membro.
Sem que eu esperasse, ficastes de joelhos
em posição devota.
O que passou não é passado morto.
Para sempre e um dia
o pênis recolhe a piedade osculante de tua boca.
Hoje não estás sem sei onde estarás,
na total impossibilidade de gesto ou comunicação.
Não te vejo não te escuto não te aperto
mas tua boca está presente, adorando.
Adorando.
Nunca pensei ter entre as coxas um deus.
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