08 janeiro, 2010

o gato

Depois de tantos desvarios na madrugada
trocando miúdos até amanhecer
esperamo-nos inteiros, intensos animais.

Chegaste devagar,
quase sorrateiro,
agora te percebo de andar sereno e leve
o felídeo vezes desconfiado.

Selvagem quando decide,
arredio quando necessita,
à mínima luz o brilho da retina
do meu eixo, por vezes, me retira...

O gosto do afago, mas sem exagero:
se te aperto muito, foges de mim.

O belo gato se arisca e quer sossego.

Mas quando te decides por carinho
e se enrosca tranquilo nas minhas pernas
de pêlos macios, pele quente,
sou fêmea, bicho-mulher, inteira
desfrutada com gosto e devagar.

E ronrona no meu ouvido, o belo gato...

O mundo selvagem torna-se paraíso
do amor felliniano felino, o amor humano dos bichos.

estética da tragédia

Por que as pessoas se interessam tanto por mortes, desastres, desgraças? Será para alimentar mais o medo? Será para questionar algum vazio de existência (já que, para morrer, basta estar vivo)? Será pura e simples morbidez? Sadismo? A morte serve ao capitalismo: vende jornais, revistas, anúncios na televisão. A morte amortecendo as gentes.


(há beleza na morte ou morte na beleza?)

04 janeiro, 2010

festejo

Com ar de festa desejo os sentimentos urgentes e seus momentos de pequeno alcance; a divindade das horas que despertam imagens apagadas; as considerações sobre a vida que ultrapassam palavras; as imprevisíveis liberdades conquistadas, irreparáveis e inconstantes; as simplicidades de uma consciência cintilante. Nosso devir de expressão, a nossa poética isolada contaminando a multidão.