30 abril, 2009

o sentido da vida

O sentido da vida não traça linha reta nem caminha pela mesma superfície, é ar e matéria de dor e prazer, ação e imaginação, está sempre exposto e escondido ao mesmo tempo em que uma consciência corre em sua procura.
O sentido da vida não tem sentido nem razão, apenas forma e volume de desentendimento, etéreo pensamento, onde tantos fracassaram em sua incessante e inocente busca...
O sentido da vida não é uma conclusão séria que se finaliza. O sentido da vida é, apenas, um filme do Monty Phyton.

26 abril, 2009

o amor em seu caminho



Quando aparecer amor em seu caminho, não desvie, não mude o horizonte, não o deixe ali, sozinho, estático, procurando um olhar iluminado que o receba... o amor que aparecer em seu caminho, ainda que ínfimo, mínimo, imperceptível, é amor, e em amor não se pisa, amor não se destrói, amor tem alma própria que, a qualquer momento, pode se desprender e se degradar aos poucos, rendido à atmosfera do vem-vai do mundo, do ir e vir de hoje e amanhã, pois amor nasce e morre na mesma cadência em que tudo se move e comove, enquanto a vida pulsar dentro da gente.


Goya
por Hugo Perucci
http://www.flickr.com/photos/hugoperucci/

23 abril, 2009

ano novo

Geralmente quando dizem "ano novo, vida nova", fico pensando se a vida há de ser nova a cada ano novo ou se a vida há de ser renovada a cada dia novo.

Pensando bem, fico com a última opção.

22 abril, 2009

convidativa

Dê-me tua mão, devagarinho. O tempo corre e escorre, mas não é preciso pressa, apenas dê-me tua mão, devagarinho, onde tudo é superfície e profundeza, onde tudo é eterno e fugaz, dê-me tua mão, devagarinho, e diga-me uma frase ao pé do ouvido, e devagarinho, andemos numa via de mão dupla, abrimos um caminho, dê-me tua mão, devagarinho, nos enrosquemos em membros e lábios, devagarinho, respiremos, transpiremos e ofegantes, nos afoguemos em nós mesmos, e devagarinho, um longo mergulho, um salto mortal de carne e desejo, mas sempre devagarinho, estafante porém leve, mansinho, devagarinho, faço um carinho em seus cachos até que, devagarinho, adormeças como criança em meus braços.

17 abril, 2009

crisálida


Em seu apelo constante, insistente atenção à tentativa de ser coesa num mundo incoerente, ela se dissocia do todo em silêncio. Liberta, porém, ainda presa e dividida, na batalha diária desta vida, ela grita calada em sua rotina, rotina de guerrilha pelo pão da cria, ela exala perfume doce de flor, na rotina de ser inventiva, alquimista e dançarina, ela se reinventa artista, menina-mulher, fêmea selvagem, primitiva e pós-moderna, camponesa e cosmopolita, ela se aprisiona em si mesma, pela salvação de sua consciência... e se transmuta, transforma, transcende a solidez de seu corpo como arma, sua alma, até que se abra novamente e, generosa, linda, persiga estrelas e vagalumes, e se perceba, de repente, mais leve e intensa de amor.

Crisálida - obra de arte contemporânea
por Hugo Perucci


um longo adeus


Um longo adeus a Reinaldo Maia.
o Teatro brasileiro perde
e todos nós, juntos, também perdemos.

"ainda há espaço para a sua indignação! ocupe-o ou cale para sempre!"

07 abril, 2009

melagkholikós


Apareceste assim, rosto abatido, coração desconsolado, olhar vago e triste, sem persistir, sem me procurar. Eu te iluminava, persistente, mas não te voltavas a mim, você não me via, não me olhava, eu refletia numas águas e, ainda assim, teu pensamento era morto, eu existia ali sem exisitir. E você, sem querer, sem perseguir... não bastava que eu fosse ensolarada, não bastava que tivesse a mim antes de findar o dia, antes deste horizonte ter um fim.

o mundo em suas mãos


Quando a vida atrofia, o titeriteiro chora. Procura desesperado por seus dedos maleáveis, seus olhos ágeis fitam os que conduziam movimentos e emoções. O tempo escorre pelos fios, páram as articulações como se, assim, parassem seu próprio coração. Seus filhos, outrora desencadeadores de tristezas, alegrias, sofrem esquecidos num depósito. Quando a vida atrofia, o titeriteiro chora o que não mais existe: o mundo em suas mãos.

03 abril, 2009

sussurro

O sussurro da tua voz era doce, caramelo melando meus ouvidos, cansados dos ruídos, cansados das lamentações. O sussurro de tua voz era meigo, um afago no rosto, mão macia em pêlo de gato, mão macia na minha mão. O sussurro de tua voz era limpo, claro e transparente, como a lágrima que em meu rosto escorre. O sussurro de tua voz me atravessa, eu tremulo, me arrepio inteira, e aguardo ansiosamente pelo momento de saber, afinal, quem és e o que queres realmente me dizer.