29 dezembro, 2005

Aquele abraço


Aquele abraço forte

a todos que compartilharam comigo

Alegrias

Tristezas

Amor

Carinho

Confiança

Compreensão

a todos que me fizeram rir

a todos que me fizeram chorar

a todos que estão aqui

dentro do meu coração!!

28 dezembro, 2005

Em Memória de Vladimir Tuccilio

Vlad, ou Vitão (assim como gostávamos de te chamar)

hoje faz cinco anos que você partiu.
Mas parece que foi ontem.

Foi ontem que tomamos cerveja
e tocamos violão
e cantamos com os amigos
até tantas da madruga
ou da manhã.

Foi ontem que nos divertimos
na mesa do trabalho,
entre papéis e gravações
em rolo ou MD.

Foi ontem que cantamos juntos
naquele karaokê que você gostava,
e simplesmente não perdoava
os que recusavam o seu convite.

Foi ontem que você nos convidou
a compartilhar as suas alegrias.

Foi ontem que você nos fez entender
que a vida é curta
e é única
e por isso temos que aproveitá-la.

Foi ontem que te vi sorrir
daquela maneira
que só você podia sorrir

o sorriso ímpar
de Vladimir.

"Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: Quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida." (Clarice Lispector)

27 dezembro, 2005

Receita de Ano Novo


Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
(mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo
até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)


Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumidas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.


Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.


(Drummond)

24 dezembro, 2005

2006

Que a paz e a arte estejam na vida de todos
por todos os momentos
por todos os dias
por todos os anos... Posted by Picasa

Suprassumos da Quintessência

O papel é curto.
Viver é comprido.
Oculto ou ambíguo,
Tudo o que digo
tem ultrasentido.
Se rio de mim,
me levem a sério.
Ironia estéril?
Vai nesse ínterim,
meu intramistério

Paulo Leminski

17 novembro, 2005

Olhe pra mim


Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse

Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.

Te olhei. E há tanto tempo
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta

Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.

Dez chamamentos ao amigo - Hilda Hilst

09 novembro, 2005

Parolagem da vida

Como a vida muda.
Como a vida é muda.
Como a vida é nula.
Como a vida é nada.
Como a vida é tudo.
Tudo que se perde
mesmo sem ter ganho.
Como a vida é senha
de outra vida nova
que envelhece antes
de romper o novo.
Como a vida é outra
sempre outra, outra
não a que é vivida.
Como a vida é vida
ainda quando morte
esculpida em vida.
Como a vida é forte
em suas algemas.
Como dói a vida
quando tira a veste
de prata celeste.
Como a vida é isto
misturado àquilo.
Como a vida é bela
sendo uma pantera
de garra quebrada.
Como a vida é louca
estúpida, mouca
e no entanto chama
a torrar-se em chama.
Como a vida chora
de saber que é vida
e nunca nunca nunca
leva a sério o homem,
esse lobisomem.
Como a vida ri
a cada manhã
de seu próprio absurdo
e a cada momento
dá de novo a todos
uma prenda estranha.
Como a vida joga
de paz e de guerra
povoando a terra
de leis e fantasmas.
Como a vida toca
seu gasto realejo
fazendo da valsa
um puro Vivaldi.
Como a vida vale
mais que a própria vida
sempre renascida
em flor e formiga
em seixo rolado
peito desolado
coração amante.
E como se salva
a uma só palavra
escrita no sangue
desde o nascimento:
amor, vidamor!


Carlos Drummond de Andrade

23 outubro, 2005

Hino à Arte

Toda vez que se inaugura um palco, os Deuses do Teatro ficam contentes e festejam.

Não porque ganharam um novo templo, são Deuses humildes, não querem ser adorados.

Nem gostam.

Mas porque sabem que assim os homens ao redor serão mais felizes.

Terão ali a oportunidade rara de assistir a própria grandeza, de ver espelhada ali a sua própria grandeza.

Ali serão vividas grandes amizades e amores.

Ali todos trabalharão juntos, criando acontecimentos que jamais ocorreriam sem o palco.

O palco sabe que não é apenas tábuas no chão.

Que é um gerador de significados.

Ali é o lugar onde a imaginação ficará livre, sendo a imaginação o único campo em que um homem é realmente livre.

Ali serão discutidos os problemas da comunidade, porque o palco sempre foi a melhor tribuna.

Ali, homens diante de homens falarão de sua alma.

Discutirão e compartilharão alegrias e tristezas como se fossem um só.

Trabalharão alegremente por um mundo melhor e mais solidário.

Inaugurar um teatro é criar uma ilha de liberdade.

De lucidez.

De solidariedade (nada une mais as pessoas do que o teatro).

Não é somente um local de diversão.

É isso também.

Mas, principalmente, é um lugar de reflexão, de descoberta, da revolução e do encontro com o outro.

Domingos de Oliveira

20 outubro, 2005

Diálogo

Belo dia EU, eu, resolvi dialogar com o mundo. EU, eu, achava que ele nunca ia me responder. Achava que ele por ser tão grande, tão imenso em suas proporções, e eu, EU, tão pequena e insignificante, não conseguiria resposta.

MUNDO - não queira ser Atlas.
EU - mas não quero ser Atlas. Quero ser eu.
MUNDO - mas você ainda nem sabe quem é de verdade.
EU - talvez essa seja a única coisa que eu sei - e de verdade.
MUNDO - não sabe nada. Você não sabe de nada. Aliás, NINGUÉM sabe de nada.
EU - mas NINGUÉM? quem é este?
MUNDO - é alguém que você, EU, já ouviu falar.
EU - ALGUÉM? o que significa ser ALGUÉM?
MUNDO - a mesma coisa que significa ser EU, NINGUÉM e todo mundo. Aliás, desculpe, MUNDO não, este sou eu, alguma coisa. TODO SER HUMANO.
EU - não consigo te entender.
MUNDO - mas isso é óbvio. Assim como você, EU, NINGUÉM e ALGUÉM nunca vão entender nada, mas sim tentar entender. Assim nascem e assim morrem e só eu, MUNDO, consigo lhe pregar as peças certas.
EU- tá falando de que?
MUNDO - de tudo, ué. Ou você acha que é simples me ferir, jogar tudo a mim sem que eu dê retorno em relação a isto.
EU - peraí... esse discurso eu ouvi do PLANETA. Você, MUNDO, é só uma parte dele.
MUNDO - não, nós somos a mesma coisa. Sem eu, MUNDO, você, EU, não existiria, concorda?
EU - é... nem tenho como não concordar. Talvez seja uma questão de conceituação.
MUNDO - e pra que querer conceituar?
EU - pra ter uma referência, talvez. Isso eu nunca questionei.
MUNDO - então comece a questionar. Vai fazer bem. Disse que sabia quem era de verdade mas não sabe mesmo. O que sabe é conceito e classificação. O que é de verdade não tem conceito ou classificação, só é e pronto.
EU - você quer me confundir.
MUNDO - mas você já é confusa. Aliás, todos são confusos. Até o NINGUÉM, a anulação do ALGUÉM, é confusa. Vocês que criam suas próprias confusões, e depois não sabem se livrar delas.
EU - confusões e conflitos, talvez. Ou tudo junto... mas... que papo de louco é esse?
MUNDO - foi você quem começou. Não classifique esta conversa. Você jogou seus desejos a mim. Você quis me carregar nas costas e se deu mal.
EU - Por isso me chamou de Atlas. Mas Atlas não te carregou nas costas, mas sim o céu.
MUNDO - e onde está o céu senão em mim?
EU - nossa... estou me sentindo uma ignorante perto de você.
MUNDO - esqueça dos adjetivos. Você faz parte de mim, não está perto de mim. Se você não cuidar de mim consequentemente não cuidará de você.
EU - e quando eu me for você continuará por aqui.
MUNDO- quem sabe? De qualquer forma, você continuará fazendo parte de mim, mesmo quando se for.

Depois disso, EU, eu, resolvi ficar calada. Nunca mais farei perguntas ao MUNDO porque ele nunca me dará uma resposta concreta.

Apenas senti um certo alívio em minhas costas.

30 agosto, 2005

Braços Cruzados

(Pedro Luiz - Zélia Duncan)

Transe de violência
Vaidade demente
Guerras à nossa espreita
Restos à nossa frente
Que ferramenta

Eu uso pra viver?
Como é que eu faço
Pra ajudar você?
Desligo a TV
Pra que as crianças
Não achem normal
Todo dia matar , morrer
Mas sobre o futuro, o que eu vou dizer?
Alguém aqui acredita
Que não tem nada com isso?
Será que nada tem vínculo
Tudo é por acaso?
Mas quem é que joga os dados
Deus ou seus diabos?
Quem decide qual o lado abençoado?
Deus ou seus diabos?
Será que nenhum de vocês
Sabe falar português?
Então, em nome da nossa dor

Eu exijo um tradutor
Alguém de carne e osso
Alguém em quem se possa confiar um pouco
Eu quero menos abandono, mais cuidado
Cristo Redentor
Eu vi seus braços crusades, tudo é ilusão
Ando pelas ruas tem de tudo, menos solução
Fecho os vidros, fecho a casa
Mas a alma não tem trinco, tá escancarada
Fecho a minha roupa, fecho a minha cara
Mas a alma não tem trinco
Nem defesa, nem nada.

17 agosto, 2005

Joguem este lixo no meu cesto, por favor!!

É incrível como o ser humano joga no lixo coisas que deveriam ser repassadas a terceiros, coisas que outros poderiam aproveitar. Obviamente, cada um faz o que quer com seus dejetos, ou com coisas que considerem inúteis a si. Mas isso já é exagero! ou descaso.
Outro dia estava eu, sossegada na sala, lendo novamente a coletânea da maravilhosa, magnânima e sublime Hilda Hilst, quando minha mãe e meu padrasto se despediram de mim, abriram a porta e seguiram seu caminho. Dali cinco minutos ouço o barulho das chaves e da porta abrindo, interrompendo o meu silêncio e minha concentração. "Ué, voltaram?", eu disse sem entender. "Sim, pois encontramos isso aqui no lixo e ficamos com dó desse material ser jogado fora", disse minha mãe, e eu, ansiosa que sou, sem nem ver o que era, soltei um "vocês trazendo lixo de novo pra casa? Porra, mãe...". Esclarecendo o "trazendo lixo de novo pra casa": meu padrasto é um ser apaixonado por história e antiguidades. Sua casa parece uma mistura de sebo com brechó (de alto padrão, leia-se), cheio de quadros, livros, abajours, miniaturas, tranqueiras velhas e históricas (até as roupas de suas falecidas tias ele guarda, uma espécie de "memória da moda" se assim posso dizer), e vira e mexe ele traz alguma lembrancinha "histórica" jogada nos lixos vizinhos, como estantes, cúpulas de abajures e afins. E ele sempre dá um jeitinho de reformar a tranqueira e aproveitá-la em casa, e quando o espaço acaba, ele manda pra minha. Nada contra, mas minha casa já está pequena demais... mas não para isso.
O "lixo" que eles trouxeram pra casa eram nada mais do que discos. Não CDs, discos mesmo, Long Player´s, vinis. E dos bons. Burt Bacharach, Gal Costa, Chico Buarque, discos bons mesmo, bossa, jazz, etc. Discos bons, com excessão de um Julio Iglesias perdido ali no meio. Uma pilha de discos, uns trinta eu acho. Jogados ali, como produtos descartáveis. Tive que concordar com eles.
Talvez você pense que eu exagero, mas uma pessoa apaixonada por arte, por música tem de achar realmente absurdo esse tipo de coisa. Livros, discos e roupas nunca deveriam ser jogados fora, mas sim repassados pra alguém (a não ser que o estado esteja realmente precário ao ponto de NINGUEM conseguir utilizar). Aqueles discos estavam lindos! Limpos, sem riscos, sem lascas. Aquele Julio Iglesias vai pro sebo (e tem pague por ele!) mas o resto fica aqui!
Se alguém cansar de seus discos, seus livros, não os jogue na lata do lixo, mas se for preciso, JOGUE ESTE LIXO NO MEU CESTO, por favor!!!

22 julho, 2005

Nós Fazemos Teatro

Tenho duas coisas a dizer. Primeiro:
Acho um grande absurdo os 16 milhões investidos no espetáculo O Fantasma da Ópera. Nada contra as grandes produções, a minha indignação se dá pelo simples fato de que esse dinheiro - os 16 milhões - é público. Sim, 16 milhões do nosso rico dinheirinho pago através de impostos investidos num espetáculo voltado para as elites, onde se paga 100 reais por um ingresso, para uma pura reprodução da Broadway, num tema pra lá de manjado como O Fantasma da Ópera, onde não estimula em nada a reflexão, não difunde nada da nossa cultura, e ainda por cima, desvaloriza o artista brasileiro. É mero entretenimento, não é teatro. E assim, vemos os nossos bons grupos de teatro se matando por um lugar ao sol, e nunca sobra grana pra eles. Por que? Vai tomar no cu, Gilberto Gil, por aprovar uma coisa dessas.

Segundo:
Acho um verdadeiro saco toda vez em que um jornalista aparece pra assitir o espetáculo, e o diretor vem com a pérola: "olha, o fulano de tal jornal vem aí, ele é crítico, portanto, caprichem hoje"... opa, opa, peraí... não é porque é fulano ou sicrano que vc tem que caprichar. O capricho tem que ser em todas as ocasiões, para todo e qualquer tipo de público que venha assistir o espetáculo. Temos que fazer bem porque queremos fazer bem, e não porque tem algum "crítico" de jornal, porque todas as pessoas, independente do cargo que ocupam, merecem assistir um bom espetáculo. Lembrando que essa "crítica" de jornal também é muito relativa, também divulgam muita porcaria por aí com as tais cinco estrelas. Aí depois não reclame se der merda, pois trablahar com paranóia não dá. Não joguemos a espontaneidade no lixo, por favor.

E pra fazer um paralelo sobre as minhas reclamações, exponho aqui um texto ótimo para a ocasião.

NÓS FAZEMOS TEATRO

Contra a ignorância, o terror, a falta de educação, a propaganda de promessas, o conforto moral, a ordem acima do progresso, a fome, a falta de dentes, a falta de amores, o obscurantismo... nós fazemos teatro.

Fazemos teatro para dar sentido às potencialidades, pra ocupar o tempo, pra desatolar o coração, pra provocar instintos, pra fertilizar razões, por uns trocados, por uma boa bisca, porque é fundamental e é inútil.

Pra subir na vida, pra cair de quatro, pra se enganar e se conhecer... contra a experiência insatisfatória; contra a natureza, se for o caso, nós fazemos teatro.

Fazemos teatro pra não nos tornarmos ainda pior do que somos.

Pra julgar publicamente os grandes massacres do espírito.

Pra viabilizar a esperança humana, esta serpente...

Nós fazemos teatro de manhã, de tarde e de noite. Nós somos uma conveniência de emoções, 24 horas distribuindo máscaras e raízes.

Nós fazemos teatro de tudo, o tempo todo, porque acreditamos que a vida pode ser tão expressiva quanto a obra e que devemos ter a chance de concebê-la e fornecê-la artisticamente.

Porque estamos acordados. Porque sonhamos os nossos pesadelos.

Nós fazemos teatro apesar daqueles que, por um motivo que só pode ser estúpido, estejam "contra" o teatro. Aliás, o que pode ser "contra" algo tão "a favor"?

Nós fazemos teatro contra a mediocrização do pensamento; a desigualdade entre os iguais e a igualdade dos diferentes.

Nós fazemos teatro contra os privilégios dos assassinos de gravata, batina, jaqueta, toga, minissaia, vestido longo, farda, camiseta regata ou avental.

Contra a uniformidade, nós fazemos teatro.

Nós fazemos teatro contra o mau teatro que querem fazer da realidade.

Nós fazemos teatro para explicarmo-nos - ainda que mal - e ao mal de todos nós dar algum destino menos infeliz.

Nós fazemos teatro pra morrer de rir e pra morrer melhor.

Pra entender o inestimável, se esfregar no infalível, resvalar na nobreza, experimentar as mais sórdidas baixezas, pra brincar de Deus...

Nós fazemos teatro, comendo o pão que os diabos amassam, os pratos feitos que as produções financiam e os jantares que as permutas permitem.

Nós temos fome da fome do teatro.

Porque onde houve e há teatro, houve e há civilização.

Fazemos teatro sim, tem gente que não faz e está morrendo, essa é que é a verdade.

Fernando Bonassi

Em tempo

Bem, já tem um tempo que eu não escrevo aqui mas nunca é tarde para voltar, né?
Na verdade, eu estava de saco cheio de tudo isso, não do blog, mas de toda bandalheira que paira sobre a nossa sociedade.
Isso, em todos os níveis.
Na política.
Na cultura.
No país.
Na minha cidade.
Na (precária) condição e atenção para com o artista.

É muita revolta prum ser humano só. Todo dia meu cérebro fervilha mas isso acontece sempre em lugares onde eu praticamente não consigo escrever, apenas pensar. Caminhando na rua, dentro do ônibus, nas esquinas, sempre por aí. E basta sentar a busanfa na cadeira e não sair absolutamente nada daquilo que me dá vontade de vomitar. Por mais que eu queira, não sai. Parece quando você olha aquele doce apetitoso na geladeira, mas você só sente vontade de enfiar o dedo nele, e não de comê-lo realmente.
Acho que eu vou começar a anotar minhas idéias em algum bloco de papel que eu possa carregar no bolso ou na bolsa, pra não deixar as idéias só no sopro.
E eu já ouvi coisas do tipo "você escreve demais" ou "não atualize seu blog todos os dias" ou "guarde suas idéias para depois"... opa, perái mermão, vc tá querendo o que? ditar as regras do MEU blog? Não me lembro de ter lido nenhum manual de como cuidar do seu próprio blog.
Se não fosse pra escrever bastante, que limitassem mais o número de caracteres.
Se não fosse pra atualizar o blog todos os dias, então que criassem um sistema que bloqueia a atualização diária.
E se tudo isso existisse, talvez eu nem visse muita graça em criar um.
E ninguém é obrigado a ler o que eu escrevo e muito menos de gostar do que eu coloco aqui.
Existe a liberdade de expressão.
Existe o livre arbítrio.

24 maio, 2005

Hóspede do Tempo parte 2

Zélia Duncan!
Essa grande compositora brasileira...
hoje, nas minhas buscas desenfreadas pelo desconhecido, e pelo conhecido, caiu em minhas mãos a sua música "Hóspede do Tempo". Adoro suas composições, mas ao descobrir esta homenagem à grande Hilda Hilst, passei a adorar mais ainda.
Faço questão de colocá-la em meu blog, afinal, foram as justas palavras da sra Hilda Hilst que me inspiraram a criar essa página - a maneira que encontrei de manifestar em palavras alguns sentimentos e de poder compartilhar com os leitores boas coisas.

Hóspede do Tempo
Zélia Duncan
Composição: Fred Martins / Zélia Duncan


Sou hóspede do tempo
Da minha casa
Das minhas palavras
Das coisas que declaro minhas
Inquilina da vida que me foi dada
Portanto, nada
Ficou na minha bagagem
Do velho brinquedo
Que já não ilude, não me ilude

O que eu tenho é minha atitude
O que eu levo é minha atitude
O que pesa é minha atitude
Minha porção maior

(Para Hilda Hilst)

21 maio, 2005

Clarice estava certa

Clarice não estava errada.
Eu sei.
Eu não sei.

"Não entendo. Isso é tão vasto que ultrapassa qualquer entender. Entender é sempre limitado. Mas não entender pode não ter fronteiras. Sinto que sou muito mais completa quando não entendo. Não entender, do modo como falo, é um dom. Não entender, mas não como um simples de espírito. O bom é ser inteligente e não entender. É uma benção estranha, como ter loucura sem ser doida. É um desinteresse manso, é uma doçura de burrice. Só que de vez em quando vem a inquietação: quero entender um pouco. Não demais: mas pelo menos entender que não entendo."
(Clarice Lispector)

20 maio, 2005

Homens de Nosso Tempo

E no meio deste fogo cruzado, essa encruzilhada que tenta me matar.
Mas não me mata.
Eu apenas nasço, e renovo a alma.
Porque eu mudo de faixa. Eu mudo o lado.
Eu mudo de itinerário.
É porque eu mudo, e muda, não me deixo morrer.
Não me permito cair além do que o chão me barra.
Eu caio de cara mas minhas mãos, ainda vivas, me dão suporte para me levantar.
E eu me levanto.
Os olhos procurando o céu.
Eu grito com o meu silêncio.
Por mais que o mundo caia sobre minha cabeça,
aquelas estrelas ainda brilham lá em cima.
Eu tenho que olhar para elas.
Eu me permito olhar para elas.
E me permitindo, assim,
eu entendo que ainda existem saídas.

Mas estas saídas são e serão por outras portas.

Esta porta aqui já se fechou.
E eu ainda tenho dezenas, talvez centenas,
de outras portas para abrir.
Basta saber onde achar as chaves.

Eu estou indo embora daqui.
Em corpo físico.
Meu espírito já se mandou há um bom tempo.
Eu tive orgulho de estar aqui.
E é essa boa lembrança desse bom orgulho,
que vai prevalecer na minha mente.

Agora, eu tenho outras portas para abrir.

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Poemas aos Homens do nosso Tempo
de Hilda Hilst

Amada vida, minha morte demora.
Dizer que coisa ao homem,
Propor que viagem? Reis, ministros
E todos vós, políticos,
Que palavra além de ouro e treva
Fica em vossos ouvidos?
Além de vossa RAPACIDADE
O que sabeis
Da alma dos homens?
Ouro, conquista, lucro, logro
E os nossos ossos
E o sangue das gentes
E a vida dos homens
Entre os vossos dentes.

01 maio, 2005

Delicadeza de um Boquete

HA!
No Manual Drummond está escrito, como ser delicado na hora de agradecer uma donzela, ou donzelo, de ter lhe aplicado um adorável bola-gato. É até uma maneira sutil de pedir desculpas por não ter ligado no dia seguinte... e nem no outro... nem no outro... nem...

Sem que eu pedisse, fizeste-me a graça

Sem que eu pedisse, fizeste-me a graça
de magnificar meu membro.
Sem que eu esperasse, ficastes de joelhos
em posição devota.
O que passou não é passado morto.
Para sempre e um dia
o pênis recolhe a piedade osculante de tua boca.

Hoje não estás sem sei onde estarás,
na total impossibilidade de gesto ou comunicação.
Não te vejo não te escuto não te aperto
mas tua boca está presente, adorando.

Adorando.

Nunca pensei ter entre as coxas um deus.

30 abril, 2005

Bem no Fundo

No fundo, no fundo,
bem lá no fundo,
a gente gostaria
de ver nossos problemas
resolvidos por decreto

a partir desta data,
aquela mágoa sem remédio
é considerada nula
e sobre ela — silêncio perpétuo

extinto por lei todo o remorso,
maldito seja que olhas pra trás,
lá pra trás não há nada,
e nada mais

mas problemas não se resolvem,
problemas têm família grande,
e aos domingos saem todos a passear
o problema, sua senhora
e outros pequenos probleminhas.

(Paulo Leminski)

26 abril, 2005

Numerologia de Aniversário

Eu fiz 25
no dia 23
daquele mês que era 4
naquele ano 2005

Eu comemorei 25
no 498 da Manuel Dutra
desde as 21
até as 5

Recebi 30 mensagens
ganhei 400 abraços
e mais 10000 de beijos
sorriso infinito
deu-se como resultado.

21 abril, 2005

Eufemismos

Ainda me lembro, como se fosse hoje, da visita de um poeta cego aos estúdios da TV Cultura, quando eu ainda trabalhava no programa Provocações, de Antônio Abujamra. Fui eu quem recebi essa figura careca, de óculos escuros e bengala, antes da gravação do programa. Conversamos pouco, amenidades até então, eu estagiária e ele poeta cego, mas simpático e ilustre em sua maneira de ser. Ainda me lembro, como se fosse hoje, dessa presença que tanto me marcou. Seu nome verdadeiro é Pedro, mas todos o conhecem (os que conhecem) por Glauco Mattoso. E ele mesmo explicou, à rede pública de televisão, o por quê desse nome artístico: um trocadilho com "glaucoma", a doença que lhe deixou cego depois de adulto.
Ainda me lembro, como se fosse hoje, das palavras que marcaram esse momento "meu pesadelo é acordar. Porque quando eu estou dormindo, eu sonho com cores, com imagens, com paisagens, mas quando eu acordo é que vem o pesadelo de abrir os olhos e não enxergar absolutamente nada".
Na suas palavras finais da entrevista, expõe com raiva a ausência de tratamentos eficazes para esse e outros tipos de problemas de visão.

Dizem que só sentimos falta do que tivemos, então imagine como foi para este homem viver enxergando até os 44 anos de idade e depois ficar completamente cego. Imagine como foi para este homem ficar cego quando até então era também um poeta concretista, dentre outras coisas.
Lembre-se dos momentos finais da vida de João Cabral de Melo Neto, que anunciou que pararia de escrever quando soube da doença que o deixaria cego. Parou de viver.

Se você está lendo isso aqui, e agradeça por estar, você não tem noção. Eu não tenho noção, e espero nunca ter, porque deve ser muito doloroso.

Para isto, não existem eufemismos. Não dá pra suavizar. Não dá para ser suave quando se fica cego aos 44, como ele. Não há eufemismos para essa dor.

Hoje abri a maravilhosa revista Caros Amigos, edição de abril de 2005, uma peça rara da nossa mídia impressa, e ali estava um poema e um texto desse também maravilhoso e raro poeta Glauco Mattoso.

Boa leitura.

SONETO 911 BATISMAL

No manual de estilo está disposto
que Pequim é "Beijim" e estouro é "boom".
Bandido é "cidadão", bunda é "bumbum".
Prostituta é "modelo", cara é "rosto".

Mas que mania estúpida! Que gosto
de achar que flatulência ou peido é "pum",
que "alcóolico" é alcoólatra ou bebum,
como se trocar nome é trocar posto!

Pra mim, "beijim" é o beijo do mineiro,
"bumbum" é só bundinha de neném,
e puta é puta mesmo, bem rasteiro!

A mídia quer ditar o que convém;
porém, no linguajar do brasileiro,
não vem com viadagem, que não tem!

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A gente pode até achar que é muita cara-de-pau a do político, já quase no bico do corvo, que "namora" mulher muito mais nova, ou do astro pop viadíssimo que se "casa" com a vedete lindíssima, ou do craque feio que só a peste "saindo" ou "ficando" com alguma atriz famosa. Mas, pensando friamente, estão todos nas deles: compram o que seu dinheiro pode comprar. Não é culpa deles se as mulheres estão à venda. Pensando mais friamente ainda, nem é culpa das prostixuxas (mistura de puta com bruxa) se a cotação da carne está alta na bolsa de mercadorias. Afinal, elas só vendem o que têm pra vender, e têm que aproveitar enquanto é tempo. Bobeou, encalha. A conclusão acaba sendo a mesma de sempre: a culpa é da imprensa, que fica "badalando" e "repercutindo" esses contratos de curto prazo. E, pensando com o máximo de frieza, nem a imprensa é responsável pelo mascarado mercado nupcial das beldades e dos espantalhos endinheirados. A culpa é nossa, mesmo, que distraidamente engolimos essa mania de eufemizar que algúem tenha um "romance" ou esteja "namorando" com qualquer celebridade da vida. É como nas letras de pagode: ninguém declara que ama, só se fala em "paixão", mas o que se quer dizer mesmo é "tesão". Então, por que diabos não vão direto ao ponto e não admitem que só querem mesmo é foder? Já que é pra eufemizar, podiam ser mais objetivos. Em vez de cantar que "não posso segurar essa paixão", cantem logo que "preciso urgentemente introduzir meu membro viril na sua cavidade vaginal" ou coisa assim. Sem esquecer que o código do consumidor recomenda que a tabela de preços esteja exposta e bem visível. Quem sabe assim parávamos com essa frescura...

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Recomendo, por essas e outras, que você compre esse exemplar da Caros Amigos. Aliás, recomendo que você compre todos os exemplares. Além desse texto, leiam também a matéria do jornalista Emir Sader "Febens ou CEUs", que pretendo comentar logo mais, e a entrevista com a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy. Fora o resto, que também é muito bom.

Por isso eu amo os ditos malditos! Eles sempre cutucam as feridas da verdade.

13 abril, 2005

Eu sou idealista, e daí?

Eu sou idealista sim. E daí? E você, é? Se não é, por que?

Eu não posso dizer que vou salvar o mundo, eu não vou salvar o mundo e sozinho ninguém vai. Mas eu quero ajudar a mudar o mundo. Um pouquinho que seja. 0,001%, mas eu quero. Já é alguma coisa.
Eu tenho vontade de chorar quando eu passo de ônibus no meio da favela do Jardim Elba, vindo pro trabalho, e vejo crianças brincando com lixo nos terrenos baldios. Quando eu vejo o ser humano vivendo em condições precárias. Quando eu vejo crianças pedindo esmolas nos faróis. Criança tem que brincar, tem que ir à escola, tem que ter cultura, tem que ter infância. Criança não tem que vender bala ou pedir moeda pra ajudar os pais, isso quando os tem. Criança não tem que trabalhar. Criança não tem que passar fome ou qualquer outro tipo de necessidade. Criança não tem que ser abandonada.
Eu sou idealista no Brasil. Pô, alguém tem que ser. Eu sei que não estou só, mas às vezes me sinto ridícula ou um tanto solitária nesses pensamentos, uma vez em que é um número mínimo de pessoas que idealizam um mundo melhor como eu. Eu queria que a fome no mundo acabasse. Que não existisse mais violência, nem corrupção. Que as pessoas brigassem menos e se amassem mais. Que o ser humano jogasse sua imbecilidade no lixo, e fizesse algo mais pelos outros seres humanos que precisam. Eu estou tentando... aos pouquinhos, com coisas muito pequenas, mas estou tentando. Pior seria se eu cruzasse os braços e achasse que o mundo não tem mais jeito.

Eu queria que todo ser humano pudesse viver em paz, ter acesso à educação, à cultura, ao lazer, tivesse um lugar bom pra morar. Que todo ser humano pudesse ter perspectivas e objetivos e acreditasse neles. Que todo ser humano parasse de passar a perna no outro.
Que todo ser humano pudesse viver num lugar melhor.

Eu sou idealista no Brasil.

03 abril, 2005

Dedicado aos Políticos e à Imprensa desse hospício chamado Brasil

Essa, com certeza, eu dedico a todos os políticos corruptos e principalmente, à nossa IMPRENSA fajuta desse sanatório a céu aberto chamado Brasil. É simples. Mas é crítico.
Obs: faço questão de postar bem grande.

MENTIR, PENSAR

O pior de mentir é que cria falsa verdade. (Não, não é tão óbvio como parece, não é truísmo; sei que estou dizendo uma coisa e que apenas não sei dizê-la do modo certo, aliás, o que me irrita é que tudo tem de ser "do modo certo", imposição muito limitadora.) O que é mesmo que eu estava tentando pensar? Talvez isso: se a mentira fosse apenas a negação da verdade, então este seria um dos modos (negativos) de dizer a verdade. Mas a mentira pior é a mentira "criadora". (Não há dúvida: pensar me irrita, pois antes de começar a pensar eu sabia muito bem o que eu sabia.)

e viva Clarice Lispector!!

EU SEI, MAS NÃO DEVIA

Tá vendo só? Tem um monte de coisas que a gente sabe mas não deveria saber. Ou até deveria, mas não tanto. Ou então, deixa pra lá e leia isso aqui. É bonito. Vocês vão gostar.

AHHH... dá pra ler de cima pra baixo e debaixo pra cima!

Eu sei, mas não devia

Eu sei que a gente se acostuma.

Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E porque à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã, sobressaltado porque está na hora.

A tomar café correndo porque está atrasado. A ler jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíches porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia. A gente se acostuma a abrir a janela e a ler sobre a guerra. E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E aceitando as negociações de paz, aceitar ler todo dia de guerra, dos números da longa duração. A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto. A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que paga. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagará mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com o que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes, a abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema, a engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às besteiras das músicas, às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À luta. À lenta morte dos rios. E se acostuma a não ouvir passarinhos, a não colher frutas do pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente só molha os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer, a gente vai dormir cedo e ainda satisfeito porque tem sono atrasado. A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.

Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se da faca e da baioneta, para poupar o peito.

A gente se acostuma para poupar a vida.

Que aos poucos se gasta, e que, de tanto acostumar, se perde de si mesma.

(do livro "Eu sei, mas não devia" - Marina Colasanti - Editora Rocco)

agora já pode ler daqui debaixo até lá em cima. E não é que continua fazendo sentido?

30 março, 2005

Homenagem ao Bruno Baroncelli

É claro que você que leu a homenagem ao Fernando Tucori, deve estar se perguntando por quê eu num "iscrivinhei" nada ainda sobre o meu irmão, esse agora biológico, de sangue, o Bruno. É porque não dava pra eu escrever os dois posts ao mesmo tempo. E eu não tenho pressa. Se você ficou com pressa, problema seu.
Tem uma coisa engraçada nisso aqui, por acaso, os meus dois irmãos (o de sangue e o de consideração) fazem aniversário no mesmo dia. É isso mesmo que você entendeu, o Bruno e o Fernando fazem anivesrário no mesmo dia sim.
Bem, o Bruno é um cara maior bonitão, tem aquele zóião verde esmeralda que deixa a mulherada molhada e enlouquecida, e que pra completar a loucura ainda é DJ. Olha, nem me interessa se ele tá no último ano da faculdade, isso interessa a ele. Me interessa que esse doido que eu tô homenageando aqui preenche a casa com muita música - da boa, mesmo. Aquele quarto azul dele é uma festa diária. Não tem um dia que ele não ponha um som pra rolar, até dormindo ele ouve música. Minha filha Vitória, que tem dois anos esse amor de criança, ama entrar naquele quarto lá, pra dançar. Não tem uma vez sequer que ela entre lá e não dance. Antes dela ir dormir ela entra lá, dança e dá um beijo nele. Ela gosta muito dele. E olha que ele dá cada bronca nela!
Então, além de bonitão e do zóião verde, o cara é show. Ele é inteligente e amigo, ele é um irmão especial. Bah... ele tem lá as suas loucuras, às vezes desce a pata de leão sem dó nem piedade, às vezes é meio tolerância zero mas isso eu entendo, porque convivo com a figura desde que ele nasceu. Ele é um cara engraçado e comunicativo, e odeia injustiças. Resumindo, eu admiro pra caralho esse ser humano irmão que saiu do mesmo lugar que eu.
Ó, pra você saber que eu não tô mentindo não, o cara tem um gosto musical da hora, passa lá no Teatro Mars às sextas-feiras que ele vai tá tocando lá. Aproveita e enche a cara na balada, porque junto tem show da banda Farufyno.

Som na caixa, Bruninho!!!

Homenagem ao Fernando Tucori

Ora, ora, eu não poderia entrar aqui e escrever um caminhão de coisas sem fazer uma homenagem a esse grande ser humano, Fernando Tucori. O cara é foda. O cara é grande mesmo, de tamanho, de inteligência, de bom humor, até de mau humor quando a vida tá foda. O cara é um grande escritor. E não tô nem aí que ele não tá fazendo sucesso nas livrarias. Nem livro publicado ele tem!! Mas dá pra você saber que eu não estou mentindo, é só entrar lá no rockwave.com e ler a Coluna do Meio. Só que você só vai saber um pouquinho. Eu sei um montão porque o cara é meu irmão. Não aquele irmão biológico, de sangue, que eu até tenho um, o Bruno, que também vai receber homenagem nesse blog aqui, mas noutra ocasião. Agora eu quero falar é dele mesmo, esse meu irmão de briga, de sorrisos, de arte, de viagem (interprete como quiser), de bagunça, até na tristeza a gente tem fraternidade.
O Fernando, ou Fê, ou Gordo (eu que chamo ele assim, e ele me responde como Candanga, mas a gente se ama, não tem problema) ou Maradonna como chamam seus amigos lá do Clube, é foda. O cara é foda mesmo. Eu adoro ver ele em cena. Eu gosto de ver ele em cena não só lá no teatro não, é na vida real mesmo. Ele sempre tem um jeito diferente de ver o mundo, sabe? E eu tenho a maior admiração por isso. Ele me acorda sempre quando eu tô dormindo no ponto. Ele sempre vem me dar soco no estômago, porque ele me conhece e sabe que às vezes é assim que eu vou ver a vida por outro ângulo. Outro dia eu tive uma crise existencial, daquelas em que a gente se sente um lixo, sabe, no trabalho, nas relações, e aí vem uma pá de dúvidas na cabeça e os miolos dão nó de marinheiro. E ele falou umas coisas pra mim, que você que tá lendo isso aqui talvez nem vá entender, ou talvez vá e não vá concordar, mas eu também não estou me importando, o que interessa é que eu entendi e que isso surtiu efeito em mim. O seguinte:

- Calu, você se acha boa em alguma coisa?
- ... (eu pensando) ah, sei lá, acho que sim, acho que sou uma boa mãe, sou uma boa produtora quando eu quero, e eu sei dançar também, então acho que eu sou boa pra dançar também mas... no fundo, sei lá mesmo.
- Calu, não seja boa em nada...
- ué, por que?
- não seja boa em nada... seja você, bobinha, que já tá bom.

Ahhhhhh... agora você deve estar despencando de rir aí com a cara na telinha. Foda-se hehehe Isso surtiu um efeito danado na minha vida, acredita? Se não acredita, foda-se de novo. E eu sou bocuda mesmo.
Por isso que eu amo esse menino-homem de paixão!

A vida é tão simples... pra que complicar?