17 novembro, 2005

Olhe pra mim


Se te pareço noturna e imperfeita
Olha-me de novo. Porque esta noite
Olhei-me a mim, como se tu me olhasses.
E era como se a água
Desejasse

Escapar de sua casa que é o rio
E deslizando apenas, nem tocar a margem.

Te olhei. E há tanto tempo
Entendo que sou terra. Há tanto tempo
Espero
Que o teu corpo de água mais fraterno
Se estenda sobre o meu. Pastor e nauta

Olha-me de novo. Com menos altivez.
E mais atento.

Dez chamamentos ao amigo - Hilda Hilst

Um comentário:

Anônimo disse...

Vejo que em essência a arte te habita as entranhas e te escorre em linhas de palavras estranhas...

Parabéns por todo este essencialismo!

"A arte como a redenção do que age – daquele que não somente vê o caráter terrível e problemático da existência, mas o vive, quer vivê-lo..." (Nietzsche)