30 agosto, 2005

Braços Cruzados

(Pedro Luiz - Zélia Duncan)

Transe de violência
Vaidade demente
Guerras à nossa espreita
Restos à nossa frente
Que ferramenta

Eu uso pra viver?
Como é que eu faço
Pra ajudar você?
Desligo a TV
Pra que as crianças
Não achem normal
Todo dia matar , morrer
Mas sobre o futuro, o que eu vou dizer?
Alguém aqui acredita
Que não tem nada com isso?
Será que nada tem vínculo
Tudo é por acaso?
Mas quem é que joga os dados
Deus ou seus diabos?
Quem decide qual o lado abençoado?
Deus ou seus diabos?
Será que nenhum de vocês
Sabe falar português?
Então, em nome da nossa dor

Eu exijo um tradutor
Alguém de carne e osso
Alguém em quem se possa confiar um pouco
Eu quero menos abandono, mais cuidado
Cristo Redentor
Eu vi seus braços crusades, tudo é ilusão
Ando pelas ruas tem de tudo, menos solução
Fecho os vidros, fecho a casa
Mas a alma não tem trinco, tá escancarada
Fecho a minha roupa, fecho a minha cara
Mas a alma não tem trinco
Nem defesa, nem nada.

17 agosto, 2005

Joguem este lixo no meu cesto, por favor!!

É incrível como o ser humano joga no lixo coisas que deveriam ser repassadas a terceiros, coisas que outros poderiam aproveitar. Obviamente, cada um faz o que quer com seus dejetos, ou com coisas que considerem inúteis a si. Mas isso já é exagero! ou descaso.
Outro dia estava eu, sossegada na sala, lendo novamente a coletânea da maravilhosa, magnânima e sublime Hilda Hilst, quando minha mãe e meu padrasto se despediram de mim, abriram a porta e seguiram seu caminho. Dali cinco minutos ouço o barulho das chaves e da porta abrindo, interrompendo o meu silêncio e minha concentração. "Ué, voltaram?", eu disse sem entender. "Sim, pois encontramos isso aqui no lixo e ficamos com dó desse material ser jogado fora", disse minha mãe, e eu, ansiosa que sou, sem nem ver o que era, soltei um "vocês trazendo lixo de novo pra casa? Porra, mãe...". Esclarecendo o "trazendo lixo de novo pra casa": meu padrasto é um ser apaixonado por história e antiguidades. Sua casa parece uma mistura de sebo com brechó (de alto padrão, leia-se), cheio de quadros, livros, abajours, miniaturas, tranqueiras velhas e históricas (até as roupas de suas falecidas tias ele guarda, uma espécie de "memória da moda" se assim posso dizer), e vira e mexe ele traz alguma lembrancinha "histórica" jogada nos lixos vizinhos, como estantes, cúpulas de abajures e afins. E ele sempre dá um jeitinho de reformar a tranqueira e aproveitá-la em casa, e quando o espaço acaba, ele manda pra minha. Nada contra, mas minha casa já está pequena demais... mas não para isso.
O "lixo" que eles trouxeram pra casa eram nada mais do que discos. Não CDs, discos mesmo, Long Player´s, vinis. E dos bons. Burt Bacharach, Gal Costa, Chico Buarque, discos bons mesmo, bossa, jazz, etc. Discos bons, com excessão de um Julio Iglesias perdido ali no meio. Uma pilha de discos, uns trinta eu acho. Jogados ali, como produtos descartáveis. Tive que concordar com eles.
Talvez você pense que eu exagero, mas uma pessoa apaixonada por arte, por música tem de achar realmente absurdo esse tipo de coisa. Livros, discos e roupas nunca deveriam ser jogados fora, mas sim repassados pra alguém (a não ser que o estado esteja realmente precário ao ponto de NINGUEM conseguir utilizar). Aqueles discos estavam lindos! Limpos, sem riscos, sem lascas. Aquele Julio Iglesias vai pro sebo (e tem pague por ele!) mas o resto fica aqui!
Se alguém cansar de seus discos, seus livros, não os jogue na lata do lixo, mas se for preciso, JOGUE ESTE LIXO NO MEU CESTO, por favor!!!