E quando tudo tiver sua hora de chegar
eu já terei ido longe.
Percorrido uma distância urgente, ofegante,
no cansaço em que se divide um dia civil.
Eu, não menos civilizada,
aguardo o tempo ordinário em que não fiz
o que deveria ter feito ou poderia fazer:
traço a minha ocasião.
Não determino nada, mas corro contra o tempo,
esse devorador da vida que vaga, lentamente ágil,
com a força de um furacão.
Não resisto às variações
do meu meridiano central.
As horas não serão mais horas,
partes, números, ensejos,
nem extraordinárias cargas de operários tristes,
intervalos críticos e decisivos,
momentos de desejo,
quando tudo tiver a hora de chegar
eu já terei partido, em boa hora:
se a badalada no sino do relógio, grita,
inquieta, em alta noite,
quando tudo está em silêncio.
Persevero, paciente,
pois não tenho prazo para acontecer.
Se todo mundo pensasse seriamente no absurdo que é tudo isso de ser feito de carne, mas também olhar as estrelas, de ter um rosto, mas também ter aquele buraco fétido, se todo mundo tivesse o hábito de pensar, haveria mais piedade, mais solidariedade, mais compaixão e amor. Hilda Hilst
25 março, 2010
16 março, 2010
inferno
Ainda prefiro acreditar que inferno é somente o poço onde cai a água depois de mover a roda do moinho.
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