24 junho, 2009

mon cœur

Paciente e esforçado, não tão benevolente, nem tampouco compassivo, ele se retrai em cansaço. Mergulhado em larga franqueza, já disse tudo o que sentia, foi generoso, responsável, reinventou-se e refletiu, variante sem designação, ficou farto, amou incondicionalmente e foi amado, feriu-se pulsionado em sua dinâmica, esta de pulsar sem freio nem pouso, de ser sempre o centro motor de impulsos e, mesmo repetitivo em suas ações, quis expurgar suas faculdades afetivas, sentiu-se vago, extremado e enfraquecido, perdeu o brio e a coragem, resignou-se de seu próprio destino... enfastiado de tudo e todos, recriou-se em sua imaginação, pegou o primeiro vôo para longe e agora, sossegado e feliz, solitário porém preenchido de novas sensações, transfigura-se belo dançarino que, sem vontade de ser encontrado, chora a calma das madrugadas ao contemplar a vida transcendida pelo toque suavemente intenso de guitarras e castanholas, sentado à mesa de um café cantante, e sorri à sua volta pelos espíritos desesperados, perdidos na Andaluzia dos poemas de Garcia Lorca.

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