04 fevereiro, 2009

resquícios

Achar felicidade nas quinas, esquinas, cantos e rodapés, rodopiando dentro do quarto ao som de samba, na cadência iluminada pela luz quente, amarela, dentro do lustre que carrega mosquitos mortos. Encontrar alegria nos livros já lidos e nos que ainda não foram explorados, sentir cheiro de papel envelhecido, amassado, dos bilhetes de outrora. Abrir a janela e não ver a aurora, nem crepúsculo, apenas olhar pra cima e ver o céu lá fora. A tontura dos rodopios embaça a vista que tenta ler os encartes dos vinis esparramados pelo quarto, uma vez que se quebrou a agulha da vitrola. Um violão, um pandeiro, uma gaita, um caxixi e um chocalho, adormecidos no armário esperando a próxima oportunidade para serem acordados. Um quarto que carrega um inteiro de memória e amor que nunca foi quarto nem metade. Amor único e inteiro, espalhado numa cama de solteiro. Amor e dois travesseiros. Um deles, hoje, chora o vazio da solidão.

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