08 fevereiro, 2006

O real valor do dinheiro

Outro dia, depois de analisar o meu falido extrato bancário, fiquei pensando no por quê do ser humano ser tão escravo do dinheiro.
Por causa de dinheiro, as pessoas se anulam, se matam, se degladiam, adoecem e o pior, acreditam piamente que é a fórmula da felicidade.
Se o ser humano diz que sem dinheiro não se vive, é porque ele mesmo criou esta necessidade ao mundo, e isto chegou a tal ponto que para mudar a situação só se o mundo explodir e nascer de novo.
Imagine se toda a energia que jogamos ao trabalhar só pra ganhar dinheiro, pra pagar contas, para comprar isso ou aquilo, fosse aplicada no amor, na criatividade, no cuidado com a natureza, como seria o mundo e as pessoas que nele vivem?
Eu olho para aquele pedaço de papel e fico pensando qual o real valor do dinheiro, porque o valor que atribuimos a ele é mais abstrato que qualquer pensamento ou sentimento, e só pode ser lógico porque é um valor numérico, consequente da aritmética e da matemática.
Infelizmente, neste sistema que criamos, somos obrigados a perder boa parte de nossa vida correndo atrás destes pedacinhos de papel, destes numerozinhos virtuais nas maquininhas bancárias, que agem como um medidor das nossas alegrias e tristezas.
Quando as pessoas perceberem o real valor do dinheiro, entrarão em desespero para recuperar o tempo, o amor , a saúde, as alegrias, os amigos perdidos, as paisagens que não foram vistas.
Não vale a pena ter a conta cheia e a vida e o coração vazios.

Questionando a massa cinzenta

No dia em que a ciência descobrir uma maneira de mudar a cor da massa encefálica, eu me candidato a cobaia desta experiência.
Para que uma massa cinzenta, quando ela pode ser azul-turquesa? ou verde-musgo? cor-de-burro-quando-foge?
Quero a minha massa encefálica com todas as cores do arco-íris!
E quando isso acontecer, eu poderei balançar a cabeça e minha massa ficará branquinha!
Já pensou que efeito legal?

Melhor então seria ter um cérebro-camaleão.
Eu olharia para o céu e a massa ficaria azul
a lua, e ficaria prata
o sol, e ficaria laranja!
Só olhando São Paulo ela ficaria cinza
e nos momentos de meditação, transparente.

Para a imaginação, a criatividade, a música,
os sentimentos,
para todas as coisas abstratas,
aquelas que a gente não vê mas percebe,
a massa poderia ficar toda colorida,
mas não poderia ser misturada,
senão daria branco na hora em que a gente mais precisa!

Encontrado!

Um manuscrito em papiro encontrado dia destes nas areias quentes do deserto do Atacama, viajou das terras longínquas por km durante milênios carregado por um tatu, que não era bola, cortando a terra por baixo. Os escritos foram traduzidos do copta em braile ao português, que não era o da padaria.
Os arqueólogos afirmam que os manuscritos traduzidos sofreram graves alterações quando passearam pela região do sul da Itália. A princípio as escrituras traziam um breve histórico sobre a figura também histórica chamada de Calor, com o nome alterado para Calu e acrescentado o sobrenome de Baroncelli, brasão dos guerreiros fundadores do Podio Maggiore que aterrorizaram por séculos a traumatizada cidade de Firenze, ou melhor, Florença na língua do Joaquim.
Calor, ou Calu, era uma pobre híbrida coruja-papagaio-humano, espécie em extinção cujo nome de origem era olhus linguos bundus, no latim, e muito estudada por pesquisadores de religiões antropozóoficas.
Estes manuscritos foram escritos (rimô) pelo poeta-herói Leminskis Paulus, numa breve descrição da espécie:

Uma frase-superfície
onde vida-frase alguma
não seja mais possível.
Frase, não, Nenhuma.
Uma lira nula,
reduzida ao puro mínimo,
um piscar do espírito,
a única coisa única.
Mas falo. E, ao falar, provoco
nuvens de equívocos
(ou enxame de monólogos?)
Sim, inverno, estamos vivos.

A espécie foi extinta antes da era de Noé e, se tivesse sobrevivido, hoje seria alvo de pesquisas científicas importantes sobre as causas da surdez irreversível.

02 fevereiro, 2006

BBB: vendando os olhos do Brasil

BBB pra mim só tem um significado: Bela Bosta Brasileira. Não sou "big brother" de ninguém a não ser dos meus próprios de sangue, ou do amigo e camarada para todas as horas, onde na amizade não é necessário o voyeurismo ou o policiamento de sua vida nas 24 horas do dia. Isso sim eu chamo de "big brother" saúdavel. Tá, sabemos que a iniciativa foi criada pelos holandeses da "Endemongol", mas que eu saiba a Holanda é um país de gente bem educada, onde vale a pena pagar os impostos que são bem aplicados e investidos no país. Não estou dizendo que o Brasil é uma merda, aliás, amo meu país e por isso luto para que ele seja melhor. Estabeleço a comparação pela seguinte questão: o que é mais fácil de se manipular, um povo famélico e ignorante ou um povo educado e bem abastecido? E "famélico" não é só fome de comida, mas fome de educação, de cultura, de saúde, fome de viver e não de só sobreviver o tempo todo.
O povo brasileiro riu e muito com os vídeos gravados pelos pobres coitados candidatos ao BBB6 que não foram contemplados. Para mim, o mais engraçado foi ver que ninguém percebeu que a Globo nem ousou tocar no assunto de transmitir, também, o vídeo dos que foram selecionados. De cara, isso dá margem a diversas questões: quem escolhe? como? por que? quais os critérios de seleção? como se justifica os que foram selecionados?. E a pergunta que não quer calar: não seria isto um jogo de cartas marcadas? É o que parece mais provável. Eu começaria tudo com a seguinte pergunta: BBB pra que???
Quem, dentre estes milhões de espectadores, sabe exatamente o que há por trás de tudo? Será que já se questionaram? Pensar dói? Ou é mais fácil acreditar que é tudo justo e honesto, ou tampar os olhos para não ver, pois a vida REAL é um fardo muito pesado de se carregar e nós, pobres mortais, temos o direito de, de vez em quando, nos sentirmos como verdadeiras Alices saltitantes no país das bunda-maravilhas?

O BBB não é a cara do Brasil, e nunca será. Eu sou brasileira e, sinceramente, me sinto ofendida toda vez que alguém diz isso pra mim. Para disfarçar, e não dar um tom racista ou preconceituoso, a emissora escolhe um "gordinho", um negro, um mulato e até um nordestino, como se BBB fosse a "oportunidade para todos", um outro um pouquinho mais "culto" para equilibrar com a acefalia da maioria de "pitboys" e mocréias "pitanguisadas", com suas bundas saradas e balouçantes, seus fios dourados de descolorantes, esvoaçando pela casa, em meio ao som de "lacraias" e "tigrões", uma verdadeira orgia "quebra-barraco" camuflada. Ah... e quem não ganha o tal 1 milhão terá a chance de aparecer na "Caras" ou na "Ti-ti-ti", "Sexy" ou "Playboy", fazendo a alegria das madamas e de adolescentes espinhentos. Ou de causar "pânico" à população, como aquela japonesa de cabelo loiro e bunda de mulata, num "exemplo de miscigenação".
Se querem que o BBB seja a "cara do Brasil", então sugiro o seguinte: coloquem na mesma casa um mendigo, um flagelado à beira da inanição, um analfabeto, um artista (de preferência o que passa o chapéu pra ganhar um troco), um interno da Febem, um traficante e, para equilibrar, um político corrupto (candidatos não irão faltar). Ah, não se esqueça do policial e do jogador de futebol.
Aí, quem sabe, nos olhemos no espelho da nossa realidade e enxerguemos onde é que está a verdadeira "cara do Brasil", esta sim ainda muito distante das lentes das câmeras e das telinhas de TV.

Calu Baroncelli

01 fevereiro, 2006

Reinvenção

A vida só é possível
reinventada.


Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
pelas águas, pelas folhas...
Ah! tudo bolhas
que vem de fundas piscinas
de ilusionismo... — mais nada.


Mas a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada.


Vem a lua, vem, retira
as algemas dos meus braços.
Projeto-me por espaços
cheios da tua Figura.
Tudo mentira! Mentira
da lua, na noite escura.


Não te encontro, não te alcanço...
Só — no tempo equilibrada,
desprendo-me do balanço
que além do tempo me leva.
Só — na treva,
fico: recebida e dada.


Porque a vida, a vida, a vida,
a vida só é possível
reinventada

Cecília Meirelles