30 outubro, 2009

passageiro

Passa depressa, não...
o local que tu transita muda a gente.
Quero dizer, mudei eu. Sim.
Não tudo, porque não dá, né?
Mas mexeu, assim,
que nem furacão que passa na cidade.
Não devastação. Tou falando errado. Peraí.
Já sei! tipo terremoto.
Tremeu tudo aqui dentro.

Dizem que o que é bom dura pouco, mas não na cabeça,
essa dona de casa que manda e desmanda
no que a gente sente.
Não passa, não, vai. Fica aqui.
Eu sei pouco da vida, eu sei.
Ela também passa depressa, não é?
Só um pouquinho que seja, então.
Senta aqui do meu lado. Me dá a mão?
Não passa depressa, não...

janelas

Acho lindo o modo como fecha as janelas. O corpo nu recostado levemente à parede, as palmas abertas tocando o vidro, te imprimindo as digitais. O olhar perdido lá fora observando a luz negra da noite e o movimento da cidade. O respiro profundo e denso entre as cortinas.
Acho lindo o modo como fecha as janelas. O jeito que recosta a cabeça no travesseiro em doce cansaço. Da forma que me fitas carinhosamente. Como cerra os olhos à espera do dia amanhecer.

Acho lindo o modo como fecha as janelas.

21 outubro, 2009

(m)eu-poema

Queria ganhar um poema que dissesse algo sobre mim...
um poeminho análise.
Sem julgamentos.
Um poeminha injusto e indiferente
mas que diga de fora aquilo que não posso ver.
Pode ser um soneto,
ou um hai-kai...
denso e discreto,
discurso direto
ou indireto.
Entrelinhas são desnecessárias.
Que as sutilezas todas sejam entendidas.

Eu peço um poema pra mim.

Mas o mundo é tão vasto e louco,
a vida tão séria e sem juízo,
o universo tão infinito e incompreensível.
Por que um poema pra mim?
Justo pra mim?
Olho tudo à volta e caio na real:
não mereço um poema.
Só os poemas que me merecem.
Reduzo-me à minha insignificância,
à minha invalidez dentro disso tudo,
a minha falta de talento de ser musa,
de ser obra terminada,
pois sou a ruína de um edifício em construção.

Eu-poema?
Acordo e dou por mim
nem receio mais quando me lembro
que palavras não fazem curva
quando bate o vento.

do risco

No embate entre desejos e possibilidades, sigo tentando, muitas vezes errante... ainda assim, prefiro o risco e suas consequências à inércia que mata vagarosamente.

dúvida

Pairam dúvidas em meu ar
e não respiro.
O coração põe-se a palpitar:
por que? por que? o quê? o quê?
Mil perguntas a pulsar.

Sou precipitada, um exagero de gente.
Chego a ser até caricata.
Mas pelo menos sou transparente...

Só que a transparência pode se confudir
com o invisível.
É aí onde morrerá meu medo,
quando terei tornado a mim
o intangível.