Se todo mundo pensasse seriamente no absurdo que é tudo isso de ser feito de carne, mas também olhar as estrelas, de ter um rosto, mas também ter aquele buraco fétido, se todo mundo tivesse o hábito de pensar, haveria mais piedade, mais solidariedade, mais compaixão e amor. Hilda Hilst
08 junho, 2011
verso reverso do avesso
Perdi todos os meus versos neste último ano, e vejo o verso reverso do avesso de que não consigo mais falar, nem de alma, nem de amor. Os amores se foram - todos - e a alma vaga no verso reverso do avesso, perdida e com frio, temendo a vida e os horrores do mundo. Horrorizei-me comigo mesma, olhando o espelho vazio. Construí uma ausência em mim mesma, um buraco oco que só espia, sem experenciar. Se quando digo que posso morrer, mas só um pouquinho, já o estou fazendo, em vida, tentando me salvar. Pois tem sido difícil saber se pior ou melhor, mudei, ou continuei na mesma, e só as coisas que mudaram ao meu redor. Virei o verso reverso do avesso, tornei-me muda, sozinha e vazia, inerte e insípida, sem piedade, sem sofrimento, mas sendo sempre o sem, a desconstrução da matéria que deságua, evapora, e some.
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