17 setembro, 2009

degradação

Não tenho medo de degradar-me. Que me venham as rugas, os cabelos brancos e uma sabedoria que se compõe na medida da decomposição. Antes a degradação de sentar-me os dias em jardins floridos, de bocas abertas e ouvidos devotados aos céus espreitando pássaros, no aguardo paciente da culposa senhora ceifeira de vidas que não avisa quando vem, a rebaixar-me a dignidade e a grandeza de toda minha pequenice. Degradar-se de ser feio verbo reflexivo e suas visagens que nos causam sustos por conter nas entre-sílabas a fatalidade. Ainda não receio a ordem das coisas; os olhos flamejam por chamas dançantes que queimam calendários. Degrado-me vagarosamente, sujeita a modificar a substância das minhas estações. Dentre minhas chuvas ainda não caídas e constelações perdidas, desejo o simples das coisas. Quero apenas, ao longo, conjugar-me.

Um comentário:

Gabriela Ventura disse...

Este texto é uma belezura. Aliás, eu poderia fazer o mesmo comentário para outros textos que li. Sempre gostei e tive respeito por gente que acarinha as palavras: é definitivamente meu tipo de pessoa. Fica o meu beijinho, Calu. :*