28 outubro, 2008

correspondência

"Querida,
sei que nesse momento precisa, por isso escrevo essa carta. Não sinta medo, nem culpa, nem raiva. Sei que adoeces de culpas que não deveria ter. Devo lhe dizer que já te vi adoecer inúmeras vezes simplesmente por ser ingênua. Não boba, ingênua. Já te vi sentir a fome dos outros com tua barriga. Minha querida, não faça mais isso com você. O excesso de altruísmo lhe faz mal. Por que se desacreditou? Vi você se largar e se desprezar por medo. Que buraco foi esse onde se enfiou? Para onde isso te levou? Repito, não sinta culpa. Se conhecer às vezes é difícil e doloroso. Quando você se ouviu pela última vez? Sei que faz tempo. Mas também sei que há aí dentro uma voz que ecoa com força o tempo todo. Essa voz implora por ser ouvida. Você só tem dois braços que não são suficientes para um mundo deste tamanho. Mas os seus ouvidos são suficientes para você. É simples. Não estou lhe impondo verdades. Apenas te sugiro um caminho. Você pode escolher. E pode não escolher. Apesar que não escolher também é uma escolha. A voz está gritando. Vai se fazer de surda? Boa sorte, minha querida. Você é mesmo muito querida."


Postou a carta na agência de correios. O destino? Seu antigo endereço. Pegou um táxi rumo ao aeroporto. O destino? Algum lugar.

3 comentários:

Camilla Tebet disse...

Que lindo. Uma carta a vc mesmo falando com suas vozes. De que tamanho é mundo que abraças, não é? Uma carta e um abraço em si mesma. Que lindo. Adorei isso.

Anônimo disse...

hahaha

Calu Baroncelli disse...

há graça em que?