[Centro de São Paulo]
Eu desço aos subterrâneos do inferno todos os dias.
Pela manhã cedo, oito e meia especificamente.
Eu passo a catraca e sinto calafrios.
As escadas que dão para os subterrâneos do inferno são longas.
Mais longo é o tempo que levo pra conseguir alcançar a plataforma.
Alienígenas subindo em minha direção.
Eu quase perco o rumo.
Quase sou abduzida pela massa.
Consigo me desviar.
Finalmente alcanço a plataforma.
A plataforma do inferno.
Corpos se arrastam.
Espíritos apagados brigam por um pedaço de chão para pisar.
Rostos entristecidos pela rotina se esbarram.
O tempo passa em câmera lenta.
Eu corro contra o tempo.
Eu corro para o trem.
O trem atravessa os subterrâneos do inferno
que cortam por dentro a cidade alerta,
a cidade que não pára,
a cidade que cresce desenfreadamente,
preenchida de almas vazias,
estonteantes,
que carregam no semblante
a loucura da metrópole caótica.
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