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A marcha dos “sem-mídia”
por Lula Miranda
Eis que, em meio ao comodismo e indiferença de muitos, surge mais um louvável movimento reivindicatório no seio da sociedade. Ainda incipiente, mas a princípio, notadamente se tomamos por base seus princípios, louvável. Já tínhamos as justas demandas dos sem-terra e dos sem-teto, só para citar alguns dos muitos e vexatórios exemplos de “despossuídos” desse país tão pródigo em riquezas e, paradoxalmente, tão pleno também em desigualdades. Agora é a vez dos “sem-mídia” libertarem-se da inércia, ocuparem as ruas e colocarem a boca no trombone – ou melhor, no megafone. E dizer a que vieram.Foi sem carro de som, mas portando um singelo megafone (comprado a partir de contribuições voluntárias de alguns participantes – a chamada “vaquinha”) que o gerente de exportações e “blogueiro” Eduardo Guimarães, 47, conduziu, naquela manhã ensolarada de sábado, 15/09, das 10h até cerca de meio-dia, a primeira manifestação do “MSM”, o auto-intitulado “Movimento dos Sem-Mídia”.O ato se deu, emblematicamente, na porta do jornal Folha de S.Paulo – este, segundo os integrantes do movimento, um inquestionável paradigma de veículo da mídia que pratica um tipo de jornalismo bastante em voga hoje em dia. Um jornalismo alicerçado num moralismo e “denuncismo” seletivos, espúrios, que protege a uns e ataca a outros. Com o gravame de, em alguns casos – como o da própria Folha – alardearem-se “pluralistas” e “imparciais”. Mas este veículo não é o único e privilegiado alvo do “MSM”. A revista Veja, o “Estadão” e a/o Globo também estão em sua alça de mira – os jornalistas sabujos dos patrões e os que venderam a alma ao mercado (e aos mercadores de mentiras e maledicências), também. Estão previstas novas manifestações no RJ e, mais uma, na cidade de São Paulo. Esta última, em frente ao prédio da Editora Abril, onde fica a redação da revista Veja, numa das margens das pútridas e fétidas águas do Rio Pinheiros.Guimarães leu, sempre franqueando a palavra aos demais manifestantes, um manifesto/documento que foi, ao final, entregue na portaria do jornal. Ao fundo, uma faixa, dentre tantas, onde se podia ler: “Que a mídia fale, mas não nos cale”. Quase todos os manifestantes ostentavam etiquetas no peito onde se podia ler: “MSM”, ou, “MSM – Contra o império da mentira”. Alguns ainda rasgaram cartas e boletos bancários com propostas de assinaturas, e jogaram na sarjeta – literalmente – exemplares da Folha e da Veja.Uma das principais bandeiras do movimento, estabelecidas cabalmente em seu, um tanto prolixo, manifesto (ler em http://edu.guim.blog.uol.com.br), é a defesa do pluralismo e da verdade factual na cobertura feita pela mídia. Os “sem-mídia” se dizem “apartidários”, e acrescentam que, em face disso, não defendem ou estão a serviço do partido X ou Y, do governo W ou Z. Questionam (e condenam) o caráter oligárquico do “mercado” da comunicação no Brasil. E trazem à tona, como pauta de discussão junto à sociedade, importante tema e questão: a informação é “mercadoria” preciosa e estratégica que está nas mãos de poucas famílias – muitas das quais serviram diligentemente ao regime militar e hoje seguem servindo, também de maneira diligente, àqueles que Raymundo Faoro chamava de os “donos do poder”. Também alertam para a gritante impropriedade (isso para dizer o mínimo) de muitas concessões de rádio e TV estarem nas mãos de políticos e/ou de apaniguados destes. Para alguns, decerto, pode parecer pouco um ato em que participaram “apenas” duas centenas de brasileiros, quase todos oriundos da classe média. Mas se levarmos em conta o individualismo e o comodismo dos indivíduos nos dias modorrentos e apáticos em que hoje vivemos, esse feito agregador/arregimentador dos “sem-mídia” não é nada desprezível – ao contrário. Outro dado importante a se considerar: o movimento já “pulula” e espalha seus brados na internet e na “blogosfera” e conta com o apoio, bastante diverso, de jornalistas, professores, intelectuais, desempregados, estudantes, profissionais liberais e outros mais. Lá, no mundo virtual, seguramente, já passam das duas centenas reunidas em SP, já chegam aos milhares.Este observador pode até estar equivocado, mas o “MSM” parece ser uma onda que cresce, de modo espetacular, se agiganta e se espalha. E parece ter vindo para ficar. Assim seja. A marcha dos “sem-mídia” deve prosseguir. Quem ganha com isso é o jornalismo – e o país. E, claro, o povo brasileiro.
Lula Miranda é poeta e cronista. Colabora para veículos da mídia alternativa, como os sites da Carta Maior e da revista Caros Amigos, dentre outros.
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