15 agosto, 2007

O Nó

Não poderia perder tempo, a conta seria estrondosa. Já havia passado quinze minutos e eu ali, com as pontas dos dedos vermelhas de tanto mexer no nó. Nessa hora eu vi que os anos de escotismo não me serviram para nada mesmo. Eu olhava novamente o nó, e o despertador. E ela já havia entrado na hidromassagem.
Como eu faria pra sair dessa? Meia hora tentando desatar o laço, e nada! Para me adiantar, resolvi me despir. Uma ansiedade tomava conta de mim. Tirei a camisa, as calças (com uma certa dificuldade), a cueca e o outro pé do sapato. Ela, sem entender o porquê da minha demora, chegou ao quarto. Sua reação ao me ver abaixado, totalmente nu, com apenas um sapato "preso" ao pé, foi cair na gargalhada. Com certeza isso foi broxante pra mim. Eu olhava o nó e a olhava, e aos poucos fui me enchendo de tudo aquilo, nó, mulher, sapato, já não pagaria mais a conta! Humilhação! Ela dizia que me amava!
Esse momento de revolta foi intenso, mas logo fui me acalmando. Aos poucos fui me vestindo, o som da ironia estava se acalmando. O nó já não estava apenas no sapato, mas também em minha cabeça, em meio àquela confusão.
Saí sem falar nada. Desci as escadas, peguei o carro. Nesse momento eu me toquei da experiência que tinha vivido. Perdi um momento de sexo, ganhei um momento de glória. Todo sentimento reprimido dentro de mim foi posto para fora.
Agora sou um novo homem. Nunca mais serei submisso às mulheres, apenas aos nós.

** Esse conto foi escrito por mim em 1995, quando eu tinha apenas quinze anos. Foi encontrado hoje em meio à papelada velha e poeirenta. Arrumar as gavetas é bom, faz a gente se lembrar também de como fomos um dia.

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