12 janeiro, 2006

Sistema, forma e pepino

... sou um homem, tropeço, estou de bruços, de bruços, pronto para ser usado, saqueado, ajustado à minha latinidade, esta sim real, esta de bruços, as incontáveis infinitas cósmicas fornicações em toda minha brasilidade, eu de bruços, vilipendiado, mil duros no meu acósmico buraco, entregando tudo, tudo, meus ricos fundos de dentro, minha alma, ah, muito conforme o Seo Silva, muitíssimo adequado, tu de bruços, e no aparente arrotando grosso, chutando a bola, cantando, te chamam de bundeiro os ricos lá de fora, o seo Silva brasileiro,
seo Macho Silva, hôhô hôhô, enquanto fornicas bundeiramente as tuas mulheres cantando, chutando a bola, que pepinão, seo Silva, na tua rodela, tuas pobres junturas se rompendo, entregando teu ferro, teu sangue, tua cabeça, amoitado, às palpadelas, meio cego, cedendo, cedendo sempre, ah, Grande Saqueado, grande pobre macho saqueado, de bruços, de joelhos, há quanto tempo cedendo e disfarçando, vítima verde e amarela, amado macho inteiro de bruços flexionado, de quatro, multiplicado de vazios, de ais, de multi-irracionais, boca de miséria, me exteriorizo grudado à minha História, ela me engolindo, eu engolido por todas as quimeras.

Hilda Hilst

"Axelrod (da proporção)" in Tu não te moves de ti

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