20 maio, 2005

Homens de Nosso Tempo

E no meio deste fogo cruzado, essa encruzilhada que tenta me matar.
Mas não me mata.
Eu apenas nasço, e renovo a alma.
Porque eu mudo de faixa. Eu mudo o lado.
Eu mudo de itinerário.
É porque eu mudo, e muda, não me deixo morrer.
Não me permito cair além do que o chão me barra.
Eu caio de cara mas minhas mãos, ainda vivas, me dão suporte para me levantar.
E eu me levanto.
Os olhos procurando o céu.
Eu grito com o meu silêncio.
Por mais que o mundo caia sobre minha cabeça,
aquelas estrelas ainda brilham lá em cima.
Eu tenho que olhar para elas.
Eu me permito olhar para elas.
E me permitindo, assim,
eu entendo que ainda existem saídas.

Mas estas saídas são e serão por outras portas.

Esta porta aqui já se fechou.
E eu ainda tenho dezenas, talvez centenas,
de outras portas para abrir.
Basta saber onde achar as chaves.

Eu estou indo embora daqui.
Em corpo físico.
Meu espírito já se mandou há um bom tempo.
Eu tive orgulho de estar aqui.
E é essa boa lembrança desse bom orgulho,
que vai prevalecer na minha mente.

Agora, eu tenho outras portas para abrir.

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Poemas aos Homens do nosso Tempo
de Hilda Hilst

Amada vida, minha morte demora.
Dizer que coisa ao homem,
Propor que viagem? Reis, ministros
E todos vós, políticos,
Que palavra além de ouro e treva
Fica em vossos ouvidos?
Além de vossa RAPACIDADE
O que sabeis
Da alma dos homens?
Ouro, conquista, lucro, logro
E os nossos ossos
E o sangue das gentes
E a vida dos homens
Entre os vossos dentes.

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