22 junho, 2011

da auto ajuda

Se a vida seguisse cartilha, tudo seria mais fácil. Mais simples e mais pontual. Se a vida seguisse cartilha, ela seria pequena, limitada num espaço determinado, com pouca perspectiva, mais presa em si mesma, fechada. A vida seguindo cartilha não poderia ser grande nem megalômana, nem libertária, nem mesmo mínima - é uma vida sem referência. Nem guerreada, batalhada. Se a vida seguisse cartilha, seria impassível, inócua e insípida, de sentimento, sensação e reflexão. Não transcenderia nem o próprio viver, nem se tornaria mutável. A vida seguindo cartilha não é uma vida experenciada, criativa em si mesma, seria somente uma vida criada por quem não estaria permitido de vivê-la. Quem vive seguindo a cartilha não a pratica e nem a teoriza, apenas se automatiza, mecaniza. A vida programada, como máquina, abandonada de suas próprias engrenagens. Sem movimento, sofrimento, devaneio.

A vida seguindo cartilha é só um objeto inerte, onde não cabe uma existência inteira.

08 junho, 2011

verso reverso do avesso

Perdi todos os meus versos neste último ano, e vejo o verso reverso do avesso de que não consigo mais falar, nem de alma, nem de amor. Os amores se foram - todos - e a alma vaga no verso reverso do avesso, perdida e com frio, temendo a vida e os horrores do mundo. Horrorizei-me comigo mesma, olhando o espelho vazio. Construí uma ausência em mim mesma, um buraco oco que só espia, sem experenciar. Se quando digo que posso morrer, mas só um pouquinho, já o estou fazendo, em vida, tentando me salvar. Pois tem sido difícil saber se pior ou melhor, mudei, ou continuei na mesma, e só as coisas que mudaram ao meu redor. Virei o verso reverso do avesso, tornei-me muda, sozinha e vazia, inerte e insípida, sem piedade, sem sofrimento, mas sendo sempre o sem, a desconstrução da matéria que deságua, evapora, e some.